Feb 7, 2023 09:44
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Portuguese term
que ideal me prendia ao sentimento de uma idéia?
Portuguese
Art/Literary
Poetry & Literature
Clarice Lispector Paixão
Abri a boca espantada: era para pedir um socorro. Por quê? por que não queria eu me tornar imunda quanto a barata? que ideal me prendia ao sentimento de uma idéia? por que não me tornaria eu imunda, exatamente como eu toda me descobria? O que temia eu? ficar imunda de quê?
Ficar imunda de alegria.
Não compreendi esta frase. Não compreendo o do ideal e da idéia. E o quer dizer "o sentimento de uma idéia". Sempre achava que uma idéia era uma coisa mental e não sentimental. E o ideal? É um ideal uma meta? Um credo? Um quê?
Ficar imunda de alegria.
Não compreendi esta frase. Não compreendo o do ideal e da idéia. E o quer dizer "o sentimento de uma idéia". Sempre achava que uma idéia era uma coisa mental e não sentimental. E o ideal? É um ideal uma meta? Um credo? Um quê?
Responses
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3 hrs
Selected
que ideal me prendia ao sentimento de uma idéia?
O ideal talvez seja o de pureza ou superioridade, visto que ela não quer se tornar imunda como a barata. O sentimento é o espanto ou pânico provocado pela ideia de tornar-se imunda como a barata. Ou seja, pode ser que a barata represente impulsos e sentimentos não tão puros que a personagem tem dentro de si e que terá de confrontar.
Bom, não passa de uma vã tentativa quando se trata de uma autora tão complexa fazendo uso do fluxo de consciência.
Bom, não passa de uma vã tentativa quando se trata de uma autora tão complexa fazendo uso do fluxo de consciência.
4 KudoZ points awarded for this answer.
Comment: "Obrigada a todos. Li com atenção todas as respostas e todas me ajudaram a traduzir."
+1
11 hrs
sugestão
Concordo com o Paulo, a obra de Clarice requer uma leitura muito atenta e muita análise.
Não li a obra completa para poder falar com mais assertividade, mas, pela leitura dos artigos facilitados pelos colegas Roberto e OGV, entendo que, através da personagem G.H., a autora discorre sobre questões ontológicas, em 2 dimensões: pela figura do feminino e da condição animal (da barata), despindo-se da sua condição humana para questionar o seu lugar ou não-lugar no mundo.
Então, talvez esse "ideal" seja justamente libertar-se da verdade, da moral, da própria pele, da sua humanidade, para entrar no mundo da animalidade representado pela figura do animal asqueroso.
E, paradoxalmente, é somente através de um atributo humano - a linguagem - que a personagem (pelas mãos da autora) questiona e entra no mundo (ou submundo) que antecede a cultura, e, portanto, o "sentimento da ideia" viria da construção da linguagem como ferramenta de exploração ontológica/existencial da personagem e as suas sensações e percepções enquanto ser vivo.
Aqui deixo um trecho do artigo que o Roberto disponibilizou, com a análise do Nodari:
“Era o que os outros sempre me haviam visto ser, e assim eu me conhecia” (p. 17). A forma de G.H. era determinada por um ser transcendente, por uma concepção ideal: “Um olho vigiava a minha vida. A esse olho ora provavelmente eu chamava de verdade, ora de moral, ora de lei humana, ora de Deus, ora de mim. Eu vivia mais dentro de um espelho” (p. 20).8 O encontro com “a massa da barata”, com aquilo que é “sem qualidades nem atributos, que não tem nome, nem gosto, nem cheiro” (p. 57), faz G.H. sair do espelho como saíra do relógio, a leva a sair para fora da imagem do retrato e para “dentro de mim até a parede onde eu me incrustava no desenho da mulher” (p. 42). Ou seja, a conduz ao “esforço (...) [de] tirar de si, como quem se livra da própria pele, as características”: “Tudo o que me caracteriza é apenas o modo como sou facilmente visível aos outros e termino sendo superficialmente reconhecível por mim” (p. 112). O que G.H. perde deliberadamente são seus atributos, suas qualidades, sua individualidade, mas também sua especificidade, isto é, sua “formação humana”, sua “montagem humana” (p. 10): “Diante da barata viva, a pior descoberta foi a de que o mundo não é humano, e de que não somos humanos” (p. 45)."
Obrigada pelo espaço e pela oportunidade de pensar sobre esse tema.
Não li a obra completa para poder falar com mais assertividade, mas, pela leitura dos artigos facilitados pelos colegas Roberto e OGV, entendo que, através da personagem G.H., a autora discorre sobre questões ontológicas, em 2 dimensões: pela figura do feminino e da condição animal (da barata), despindo-se da sua condição humana para questionar o seu lugar ou não-lugar no mundo.
Então, talvez esse "ideal" seja justamente libertar-se da verdade, da moral, da própria pele, da sua humanidade, para entrar no mundo da animalidade representado pela figura do animal asqueroso.
E, paradoxalmente, é somente através de um atributo humano - a linguagem - que a personagem (pelas mãos da autora) questiona e entra no mundo (ou submundo) que antecede a cultura, e, portanto, o "sentimento da ideia" viria da construção da linguagem como ferramenta de exploração ontológica/existencial da personagem e as suas sensações e percepções enquanto ser vivo.
Aqui deixo um trecho do artigo que o Roberto disponibilizou, com a análise do Nodari:
“Era o que os outros sempre me haviam visto ser, e assim eu me conhecia” (p. 17). A forma de G.H. era determinada por um ser transcendente, por uma concepção ideal: “Um olho vigiava a minha vida. A esse olho ora provavelmente eu chamava de verdade, ora de moral, ora de lei humana, ora de Deus, ora de mim. Eu vivia mais dentro de um espelho” (p. 20).8 O encontro com “a massa da barata”, com aquilo que é “sem qualidades nem atributos, que não tem nome, nem gosto, nem cheiro” (p. 57), faz G.H. sair do espelho como saíra do relógio, a leva a sair para fora da imagem do retrato e para “dentro de mim até a parede onde eu me incrustava no desenho da mulher” (p. 42). Ou seja, a conduz ao “esforço (...) [de] tirar de si, como quem se livra da própria pele, as características”: “Tudo o que me caracteriza é apenas o modo como sou facilmente visível aos outros e termino sendo superficialmente reconhecível por mim” (p. 112). O que G.H. perde deliberadamente são seus atributos, suas qualidades, sua individualidade, mas também sua especificidade, isto é, sua “formação humana”, sua “montagem humana” (p. 10): “Diante da barata viva, a pior descoberta foi a de que o mundo não é humano, e de que não somos humanos” (p. 45)."
Obrigada pelo espaço e pela oportunidade de pensar sobre esse tema.
Peer comment(s):
agree |
O G V
: Bem esclarecedora contribuição
12 hrs
|
Obrigada, OGV, muito bom aprender com vcs, abs!
|
23 hrs
ideal=valor supremo, crença, objetivo +sentimento/sentir =percepção/perceber (emocionalmente)
sentimento/sentir pode se adaptar como percepção/perceber de um modo emocional, instintivo
ideal=valor supremo, crença, objetivo, algo que não é real mas rege o inspira a realidade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ideal_(ética) (com entrada em russo)
https://ru.wikipedia.org/wiki/Идеал
pelo que sei do vosso alfabeto, é tbm "ideal" :)
conceito que vem de Platão
A Pólis ideal segundo Platão - jstorhttps://www.jstor.org › stable
por A Freire · 1968 — A. FREIRE - A POLIS IDEAL SEGUNDO PLATAO 391 factos que influiram decisivamente na elaboragao do sistema legislativo de Platao. 6 A cronologia dos dialogos ...
Platão - Toda Matériahttps://www.todamateria.com.br › p...
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ideal "platao" de www.todamateria.com.br
Aplicando sua filosofia, Platão imaginou na "República", uma sociedade ideal dividida em três classes, levando em conta a capacidade intelectual de cada ...
Platão: resumo, quem foi, obras, ideias e fraseshttps://brasilescola.uol.com.br › pla...
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ideal "platao" de brasilescola.uol.com.br
"Platão"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/platao.htm. Acesso em 07 de fevereiro de 2023.
A República e o governo ideal de Platão - Netmundi.orghttps://www.netmundi.org › filosofia
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O filósofo grego Platão (427 – 347 a.C) representa o ponto de partida da filosofia política do Ocidente, bem como de grande parte de nosso pensamento ético ...
Platão - Proenemhttps://www.proenem.com.br › platao
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Na obra A República, Platão expõe sua concepção de sociedade, de política e de arte. Platão, nesse livro, propõe um Estado ideal, uma utopia.
BRL 24,90
O IDEAL DE PLATÃO - Nova Acrópole Portugalhttps://www.nova-acropole.pt › o-i...
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Na sua juventude, Platão era já um dramaturgo inato, escrevendo tragédias. Entretanto a abelha transformou-se em cisne, quando Sócrates na véspera do seu ...
Platão: biografia, principais ideias, obras e fraseshttps://mundoeducacao.uol.com.br › ...
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Platão · conhecimento sensível, inferior e enganoso, que seria obtido pelos sentidos do corpo, e · conhecimento inteligível, superior e ideal, que acessaria a ...
A REPÚBLICA DE PLATÃO, O ESTADO IDEALhttps://segundasfilosoficas.org › a-r...
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Platão aspirava a construir uma República que fosse a cidade ideal, organizada segundo as leis da justiça e da harmonia, cidade na qual cada habitante deveria ...
Platão o filosófo das ideias - Monografias Brasil Escola - UOLhttps://monografias.brasilescola.uol.com.br › ...
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Possuído de um ideal político, Platão não estaria interessado
confio ter esclarecido um pouco mais o jogo de palavras que tão bem lhe explicaram Luciana, Paulo e Roberto
sempre um prazer deparar com esses textos mesmo como já foi dito :)
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Note added at 23 hrs (2023-02-08 09:42:27 GMT)
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rege oU inspira a realidade :)
ideal=valor supremo, crença, objetivo, algo que não é real mas rege o inspira a realidade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ideal_(ética) (com entrada em russo)
https://ru.wikipedia.org/wiki/Идеал
pelo que sei do vosso alfabeto, é tbm "ideal" :)
conceito que vem de Platão
A Pólis ideal segundo Platão - jstorhttps://www.jstor.org › stable
por A Freire · 1968 — A. FREIRE - A POLIS IDEAL SEGUNDO PLATAO 391 factos que influiram decisivamente na elaboragao do sistema legislativo de Platao. 6 A cronologia dos dialogos ...
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ideal "platao" de www.todamateria.com.br
Aplicando sua filosofia, Platão imaginou na "República", uma sociedade ideal dividida em três classes, levando em conta a capacidade intelectual de cada ...
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ideal "platao" de brasilescola.uol.com.br
"Platão"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/platao.htm. Acesso em 07 de fevereiro de 2023.
A República e o governo ideal de Platão - Netmundi.orghttps://www.netmundi.org › filosofia
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O filósofo grego Platão (427 – 347 a.C) representa o ponto de partida da filosofia política do Ocidente, bem como de grande parte de nosso pensamento ético ...
Platão - Proenemhttps://www.proenem.com.br › platao
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Na obra A República, Platão expõe sua concepção de sociedade, de política e de arte. Platão, nesse livro, propõe um Estado ideal, uma utopia.
BRL 24,90
O IDEAL DE PLATÃO - Nova Acrópole Portugalhttps://www.nova-acropole.pt › o-i...
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Na sua juventude, Platão era já um dramaturgo inato, escrevendo tragédias. Entretanto a abelha transformou-se em cisne, quando Sócrates na véspera do seu ...
Platão: biografia, principais ideias, obras e fraseshttps://mundoeducacao.uol.com.br › ...
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Platão · conhecimento sensível, inferior e enganoso, que seria obtido pelos sentidos do corpo, e · conhecimento inteligível, superior e ideal, que acessaria a ...
A REPÚBLICA DE PLATÃO, O ESTADO IDEALhttps://segundasfilosoficas.org › a-r...
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Platão aspirava a construir uma República que fosse a cidade ideal, organizada segundo as leis da justiça e da harmonia, cidade na qual cada habitante deveria ...
Platão o filosófo das ideias - Monografias Brasil Escola - UOLhttps://monografias.brasilescola.uol.com.br › ...
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Possuído de um ideal político, Platão não estaria interessado
confio ter esclarecido um pouco mais o jogo de palavras que tão bem lhe explicaram Luciana, Paulo e Roberto
sempre um prazer deparar com esses textos mesmo como já foi dito :)
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Note added at 23 hrs (2023-02-08 09:42:27 GMT)
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rege oU inspira a realidade :)
1 day 10 hrs
Que ideal me prendia ao sentimento de uma idéia?
Impossível responder em uma linha, daí a repetição na pergunta como resposta. :-)
Li "A Paixão Segundo G.H." e devo dizer que foi um dos livros mais fascinantes que já li até hoje. Antes de partir para a resposta, um pouco sobre o livro. Trata-se de um mergulho profundo na consciência da narradora (conhecida apenas pelas iniciais G.H.), em que ela questiona sua existência e através dela uma série de dogmas religiosos.
Neste caso específico, penso que se trata do ideal da "pureza" e da "virtude", que permeia o cristianismo e de certo modo o judaísmo. (Clarice Lispector era judia, emigrada da Ucrânia para o Brasil quando criança. Não era ortodoxa e chegou a participar de um congresso das bruxas na Colômbia, se não me falha a memória.) O simples pensar em comer uma barata causa repulsa em qualquer ser humano e com G.H. não haveria de ser diferente. No entanto, através de um profundo mergulho introspectivo à procura de uma resposta, G.H. finalmente ultrapassa a barreira da repugnância e acaba comendo a barata. É a maneira de Lispector dizer que o cessar de todo sofrimento humano passa necessariamente pela aceitação do agente causador. Não há outro caminho. O pensar em comer uma barata causava sofrimento, estresse, repugnância etc. mas a partir do momento em que ela aceitou que seu sofrimento era mental e não físico, e entendeu que isso advinha de um dogma (pureza e virtude) culturalmente herdado, acabou-se a repulsa e ela passou à concretização do ato.
--------------------------------------------------
Note added at 1 day 11 hrs (2023-02-08 20:45:39 GMT)
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PS: O termo politicamente correto é "wicca" e não "bruxas", que tem uma conotação muito negativa. Tive uma colega de trabalho que era "bruxa" e me pareceu a pessoa mais normal do mundo. E juro que não vi nenhuma vassoura no estacionamento. :-)
Li "A Paixão Segundo G.H." e devo dizer que foi um dos livros mais fascinantes que já li até hoje. Antes de partir para a resposta, um pouco sobre o livro. Trata-se de um mergulho profundo na consciência da narradora (conhecida apenas pelas iniciais G.H.), em que ela questiona sua existência e através dela uma série de dogmas religiosos.
Neste caso específico, penso que se trata do ideal da "pureza" e da "virtude", que permeia o cristianismo e de certo modo o judaísmo. (Clarice Lispector era judia, emigrada da Ucrânia para o Brasil quando criança. Não era ortodoxa e chegou a participar de um congresso das bruxas na Colômbia, se não me falha a memória.) O simples pensar em comer uma barata causa repulsa em qualquer ser humano e com G.H. não haveria de ser diferente. No entanto, através de um profundo mergulho introspectivo à procura de uma resposta, G.H. finalmente ultrapassa a barreira da repugnância e acaba comendo a barata. É a maneira de Lispector dizer que o cessar de todo sofrimento humano passa necessariamente pela aceitação do agente causador. Não há outro caminho. O pensar em comer uma barata causava sofrimento, estresse, repugnância etc. mas a partir do momento em que ela aceitou que seu sofrimento era mental e não físico, e entendeu que isso advinha de um dogma (pureza e virtude) culturalmente herdado, acabou-se a repulsa e ela passou à concretização do ato.
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Note added at 1 day 11 hrs (2023-02-08 20:45:39 GMT)
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PS: O termo politicamente correto é "wicca" e não "bruxas", que tem uma conotação muito negativa. Tive uma colega de trabalho que era "bruxa" e me pareceu a pessoa mais normal do mundo. E juro que não vi nenhuma vassoura no estacionamento. :-)
110 days
Ideal
concebido como constituindo um padrão de perfeição ou excelência
O padrão de beleza ideal era bem diferente durante a Idade Média.
considerado como perfeito para algo
A sala é o lugar ideal para se instalar uma lareira.
aquilo que existe somente em pensamento; não real, não factual
A natureza é real, a beleza é ideal.
vantajoso, excelente, o melhor
Seria ideal se ela pudesse nos acompanhar pois ela conhece o caminho.
Tradução
Alemão: ideal, musterhaft, vorbildlich, ausgesucht
Espanhol: ideal
Francês: idéal
Inglês: ideal
Italiano: ideale
Russo: идеальный
O padrão de beleza ideal era bem diferente durante a Idade Média.
considerado como perfeito para algo
A sala é o lugar ideal para se instalar uma lareira.
aquilo que existe somente em pensamento; não real, não factual
A natureza é real, a beleza é ideal.
vantajoso, excelente, o melhor
Seria ideal se ela pudesse nos acompanhar pois ela conhece o caminho.
Tradução
Alemão: ideal, musterhaft, vorbildlich, ausgesucht
Espanhol: ideal
Francês: idéal
Inglês: ideal
Italiano: ideale
Russo: идеальный
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